Olhares pausados

O que se chama felicidade?É algo subjetivo e abstrato, que depende das pessoas e da concretude das relações. As vezes eu me pego tentando compreender o que não é expressivo em mim e tentando tranformá-lo. Transformar com a mesma facilidade que as coisas mudam no universo, como o calor e a força, nas ciências exatas. Eu, neste exato momento, consigo compreender o motivo de cada palavra que digito, porque estou sentindo e com vontade de dizer tudo o que não sei de onde vem. Dá uma vontade louca de não parar, de deixar de lado só quando os dedos não agüentarem mais. Isso me deixa apreensivo, pois pode ser apenas algo passageiro e que não mude nem acrescente nada no meu modo de ver o mundo e os outros. Então, respiro fundo e continuo a desvendar os mistérios do ser pensante que sou. Basta o desligar do computador e o abrir de uma porta que o pensamento se volta para o fato que estar por vir. Queria poder decifrar o poder dos “olhos de ressaca” da mulher amada do Bentinho, personagens do famoso livro “Dom Casmurro”, do Célebre Machado de Assis. Penso que o autor, ao usar esse adjetivo, quis nos mostrar que tudo nasce da intimidade, onde pequenas experiências e gestos corriqueiro revelam a real personalidade e, com isso, cria laços afetivos, ligações profundas no relacionamento interpessoal, chegando no ponto de um simples olhar diferenciado refletir para o outro o real sentimento, não estando ausentes as palavras. Eis aí o segredo de uma amizade. Ser amigo é se encontrar no silêncio, se descobrir no segredo transpassado atrás do sorriso. As vezes não notamos isso pela falta de coragem de descobrir no outro coisa que repudiamos em nós e não temos coragem de assumir e acaba-se menosprezando a amizade. É preciso enfrentar o desafio diário de olhar lentamente para o outro,de se por em seu lugar, para não chegar a conclusões precipitadas e julgamentos imprecisos e injustos. Achando isso, talvez se descubra a tal “Comunhão Perfeita”,”o estado agudo de felicidade”, tão defendido e falado pela Clarice Lispector. Certa vez, num dos encontros que participei, ouvi um pensamento que até hoje carrego comigo: “Há uma música do Roberto Carlos que diz “eu quero ter um milhão de amigos pra bem mais forte poder cantar...”. Eu fico pensando que, tendo um milhão de amigos, eu não teria tanta intimidade com todos eles. Poderia até se dizer que poderia estar todos juntos, porém desunidos. Eu prefiro ter 2 amigos de fé, de caminhada, que me entendam pelo avesso e me respeitem do jeito que sou”. Então, é necessário olhar para quem estar do nosso lado com olhos poéticos para se descobrir a beleza do que ele quer nos oferecer. E aceitar o que vier.
Omnia vincit amor (O amor vence tudo)


(Gerlondson Jr)

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