DAMAS - 187 anos de fundação

De tanto acreditarem , tornaram-se Damas
(Osvaldo Epifanio)

Que mulheres
Seriam mais afetuosas?

Que damas
Seriam mais consagradas?

Que seres acordam mais para Deus?

São assim:
Atentas, teimosas, incansáveis!

Como vivem em parceria,
Em vidas conjuntas,
Aprendem a varrer da alma a solidão.

Deus, neste instante,
Não é para elas uma ingênua imagem.
É real, presente, insistente,

Veem as Damas
Que tudo circula
Em mãos divinas,
Sob o manto dos tempos preenchidos,

Ignoram a desistência
Como se fossem guerreiras
Impávidas nas batalhas duráveis.

Coragem é o que elas plantam,
Sem medo do mundo adverso.

Têm os pés na busca pela juventude.
Sofrem quando Deus é esquecido.
Vibram quando sabem
Que suas preces devotas
Salvam vidas dispersas.

Sempre despertam com a certeza
De que mais 187 anos
Não serão completos
Se uma alma que seja
Não for resgatada.

É assim ser Damas:
Um caso permanente de amor à vida!

Contrastes

Chove lá fora e o coracao ainda se recupera das avalanches da vida.
O encontro com as pessoas revelam o contraste daquilo que elas pensam saber.
A chuva cai e a ternura brota nos quintais nunca antes floridos.
A vida e seus mistérios me facinam...
Julgar é fácil, difícil é estar com quem não nos quer bem.
Não gostando, mas amando, com o amor ágape.


"Perdoa-me, folha seca,não posso cuidar de ti. Vim para amar neste mundo, e até do amor me perdï'' (Cecília Meirelles)


Gerlondson Jr

A vida e seus mistérios...

Não, eu não vi a sua cura se cumprir
Eu não vi o seu milagre acontecer
Nada que eu pedi a Deus aconteceu

É... Vou tentando achar o rumo por aqui
Vou reaprendendo ser sem ter você
Descobrindo em mim o que você deixou

Grito seu nome
Desejoso de resposta
Quando vejo a mesa posta
E seu lugar sem ter ninguém

Mas nessa ausência
Sei que existe outra presença
Uma força que sustenta
E que me faz permanecer... de pé

É Jesus, meu Deus humano
Meu Deus humano
Que conhece a dor de ver partir a quem se ama
Que chorou de saudade
Que sofreu por seus amigos
E que esteve ao meu lado
Quando eu vi você partir

É Jesus, meu Deus humano
Meu Deus humano
Que conhece a dor de ver partir a quem se ama
Que chorou de saudade
Que sofreu por seus amigos
E que não me abandona
Quando eu não sei compreender

Por que você partiu
Por que você se foi
E porque o milagre não se deu como eu pedi

Não, eu não vou perder a fé nem desistir
Foi você que me ensinou antes de ir
Vou vivendo assim, conhecendo o coração
Que você fez pulsar em mim
(Pe Fábio de Melo)


É o que sinto...
Ao Tatalo, In memoriam

As águas que vão e vem...

Texto de Raquel de Queiroz
Última Hora
20/03/73


Águas de março

Tom Jobim escreveu e compôs o poema musical das Águas de Março, coisa bela e estranha, dura; fere o coração com um toque de pedra e depois o afoga na cheia das águas. Promete e recorda, memória de infância e angústias da força do homem. E até num velho pode suscitar nostalgias antigas.
Águas de Março; não sei se o sabia, Tom, são também para muita gente a última esperança. Equinócio de verão, dia de S. José, a derradeira oportunidade do inverno. Vinte e um de março - a virada do verão, o equinócio. Mas o povo antes se fia no 19 de março, dia de S. José, o carpinteiro, que foi gente como nós e sabe o que é pobreza e insegurança.
Sim, Tom, tem lugares no mundo onde é a última oportunidade. Se não chover até ali, não chove mais; daí para diante, será por toda parte só o vento, o sol, a terra cizenta, a fome - se a gente quisesse repetir a batida de eco da sua enumeração poética.
Este ano vem sendo o quinto em que não chove ou chove mal em muitas zonas do Nordeste. Salteado chove, aqui e ali, mas nunca regularmente e geral, nunca total e seguido nos meses certos, como devia ser. Se em 60 foi bom aqui, em 70 foi péssimo, nos outros foi fraquinho. E nos Inhamuns, por exemplo, foi ruim emendado, o tempo todo. A mesma história se conta nas margens do S. Francisco, no sertão inteiro de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará. E esses anos magros de estiagem, juntando-os todos, vêm a ser pior do que uma seca completa e corrida, de dezembro a dezembro. Pois a seca vindo de repente, embora total, encontra as reservas dos anos bons, açudes cheios, gado sadio, algum resto de legume e farinha nos paióis. E o povo resiste bem, sabendo que é só aquele ano; trinca os dentes e agüenta - afinal é uma penitência.
Mas depois que apareceu a seca verde, é diferente e pior. Chove um pouco em janeiro ou fevereiro. Nasce a rama, a terra se enfeita, os jornais dão notícia. O povo planta. E aí recomeça o verão. Com o verão, vem a largata, come toda folha nova. Então o povo replanta. Em alguns lugares o legume nasce, em outros nem chega a nascer, porque o inverno parou. Só uns barrufos de chuva, de longe em longe, que não dão para umedecer o chão de novo estorricado e só servem para desmentir quem fala em seca.
Com os anos seguidos de inverno escasso, os açudes baixaram, cada falso inverno perdendo mais do que recuperando. Afinal veio 72, e tudo secou de vez. O leito da água evaporada ficou no barro, lascou, empedrou. O peixe, que era um dos recursos do povo, morreu todo. Reserva de nada não há mais nenhuma. Até a água dos grandes açudes do governo fica grossa, baldeada. O gado é uma ameaça, descarnado e triste.
E o povo, que vai ser dele? Voltar à amargura, ao vexame das frentes de serviço, trabalhos de caridade que as máquinas fariam muito melhor? Só Deus sabe - Deus e S. José no seu dia, 19 de março. O qual, quando estas linhas sairem à rua, já se terá passado - e então se saberá definitivo se é hora de sorrir ou de chorar.




Cantar e viver

As vezes parece que meu coração é demais pra esse mundo cheio de controvérsias.
Ou o mundo é disforme demais pra tanto sentimento.
As coisas mexem, mudam de lugar, tudo passa.
Tudo como um rio.
Mas o riso interior, a satisfação de ser gente e a alegria de encontrar o bem em cada sorriso, em cada gesto não deve ser esquecido.
Porque quem não sorri ao menos uma vez no dia corre o risco de deixar de se encantar com os detalhes da vida.
A vida é simples, a gente é quem complica!
(Gerlondson Jr)