- Sem Título -

O vento assanha o cabelo dela
E esparrama o milk shake pelo chão
Sim, ela é atordoada mesmo.
E avista lá no final o poeta
Ela sai correndo atrás dele
E ele, com medo, fica parado no lugar
Levanta a sobrancelha e começa a assobiar
Faz bico, finge que não é com ele e mexe com três dedos.
Ela passa, dá três voltas pelo quarteirão, e volta
Suada, por sinal, e saltitante, feito uma gazela.
E o poeta continua lá
Só observando.
Porque ela pensava que, só porque ele era poeta,
As palavras dele iriam sair pra falar com ela.
Não..as palavras não saem do simples movimento autônomo.
Elas também sentem, é preciso a emoção momentânea pra ela se revelar
Aí o poeta olhou de cima a baixo, dum lado pro outro
Viu que não tinha mais ninguém
E começou a rir.
(Porque ela não sabia o que era escrever).
Sabia sim o que era ler, mas não sabia pensar.
Me diga o quanto você é Feliz que eu tento te mostrar o tamanho do meu prazer em colocar as palavras em algum lugar


(Gerlondson Jr.)

1 O QUE ACHOU DO TEXTO?:

TH disse...

É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Clarice Lispector