Impiedoso

No final da rua, perto da baixada, havia uma casa antiga, caiada de azul e cheia de lodo que se criara ao longo do tempo. Na casa, uma janela e uma porta de duas partes sobre a qual a velha que lá morava se debruçava para ver o escasso movimento da rua. Dentro da casa não havia muita coisa, uns moveis velhos e empoeirados, uma toalha tentava cobrir as marcas do cupim, uma cama funda de tanto uso e umas panelas penduradas na cozinha.
Ela nem sempre foi assim, era cheia de vida, muita gente por lá passava a conversar com os donos. Lá morava um casal: Ela, de família média, freqüentou pouco a escola mas era uma mulher requintada, o tempo fizera dela uma dona de casa dedicada e cuidadosa. Ele, Comerciante de família rica do Rio de Janeiro, mudou-se procurando montar um negocio no ramo de móveis. Tinham quatro filhos, todos homens, os quais tinha viajado ao Rio para cursar engenharia. A vida não era regida a regalias, o marido passava o dia fora e a mulher a trabalhar nos afazeres da casa. A noite erra fervorosa, os amigos do comerciante e os vizinhos enchiam a casa de vida, as conversas tomavam conta da casa e da calçada, a casa esvaziava por volta das onze horas, todos iam dormir a vida, no outro dia, continuava.
O negocio deu tão certo que decidiram voltar ao Rio e vender a casa que moravam, mas a casa não vendia, já estava velha e acabada, e eles não pretendiam reformá-la. Até que aparece uma senhora que se oferece para tomar conta da casa, o casal vai embora e a deixa. A velha nada pode fazer senão viver o tempo que lhe resta. O tempo passa e a dona não resiste.
Hoje a casa está lá, abandonada. Onde as pessoas antigamente se divertiam, em longas conversas, hoje os desocupados se viciam em drogas. Onde antigamente se faziam as refeições, hoje o mato toma conta. Onde antes havia vida hoje há o abandono. O que antes era vivo o tempo tornou morto.

(Pedro Vítor)

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