Ampulheta

Meus olhos já estão vermelhos do sono que me manda parar de escrever. Sei que das tantas horas essa é a pouca que me permito fazer alguma coisa proveitosa, porque parece que quando o sono bate à porta a mente começa a funcoinar num ritmo natural. O ritmo que me faz pensar, não no que fiz, mas no que não fiz e no que não fui, apenas funciono regularmente todos os dias. Canso sempre os olhos nas mesmas coisas que não me fazem questionar o porquê de não fazer diferente, de não ser diferente.
Mas a vida flui num curso incerto, lentamente. E me pergunto do tempo que perco nesse fluxo, tantas vezes caótico e desordenado. Do tempo da espera, da vida que vai secando aos poucos enquanto a longa a longa ausência de algo que nos faz feliz é suprida por pequenos momentos de prazer. Tão pequenos que são facilmente acobertados, pois a busca do algo maior é prioridade em todos o que assim se encontram.
Nisso a areia vai escorrendo na ampulheta, como a esperança que vai se esvaindo no coração. É preciso de alguém para virar a ampulheta, eu, particularmente, escolhi Deus para virá-la. E o escolhi porque sei que ele não a deixará secar para girar. Às vezes parece que ele nem a vira, apenas vai enchendo-a infinitamente.
Disso se faz a vida, a de quem espera se faz das pequenas coisas, que não se transformam em grandes, mas que preparam para as grandes que devemos fazer ou receber. Porque tudo se faz de vida, vida que escoa numa ampulheta...

(Pedro Vítor)

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